sábado, 1 de agosto de 2015

Sobre minha religião

Ao longo da caminhada somos expostos a inúmeras correntes de pensamentos, doutrinas, teorias e afins. Não é só isso. Vivemos em dias difíceis onde o fluxo natural é baseado em consumo e imagem. Onde a estética está acima do conteúdo e as referências do “eu” ficam a mercê do julgamento da media. Deixamos de ser indivíduos e viramos massa, coletividade, medíocres. Coloque tudo no pacote e veja o quanto somos intoxicados, o quanto nossos sentidos naturais de percepção ficaram entupidos.

Entre em uma sala com muitos sons. Você só ouvirá barulho e não discernirá nenhum.
Entre em uma sala com muitos cheiros. Será que conseguirá diferenciar cada um ou o que sentirá será a somatória de todos que criarão outro cheiro?

Olhe para uma paisagem carregada de cores imagens,a rua lotada de gente, a multidão na arquibancada e o que verá além do volume, da massa, do produto da somatória de muitos ?

Agora me diga: O que de melhor podemos extrair dos discursos religiosos, a não ser que façamos ao próximo o que gostaríamos que façam a nós. Que sejamos subversivos em relação a cultura vigente, como quem entende que não é a imagem ou o ter, mas é no ser, aquele que quase ninguém vê, que realmente somos ?

Qual religião estimula a ligação dos bichos que vivem na selva, da selva que cuida dos bichos, da natureza que -apesar de nós- nos cuida, alimenta e proporciona a vida no planeta ? Por acaso os peixes nas profundezes do oceano tem religião ? Qual a doutrina de um lobo no Oeste americano ou do cachorrinho que mora em nossas casas ? E aquela criança, cheia de simples doçura e percepção do que realmente importa, foi doutrinada em qual dos “ismos” ? Com que mentoria?

Somos parte disso e o software da fé (mente de Deus- como tem se falado por aí) já nasceu em nós. Nossa única tarefa é ver, escutar e perceber o que já está aí com simplicidade.
Eu falava sobre a intoxicação que estamos expostos só pra lembrar que essa é a causa pela qual acreditamos que são os ritos, doutrinas e “ismos” que nos levarão a algum lugar.
Me diga: que religião está além do que naturalmente posso ser e fazer por quem precisa ?

Preciso de uma doutrina pra saber o que é bom ? De um livro para entender o que é natural nos bichos, na natureza e em nós mesmos ? Que diferença faz se eu acredito que o céu é de ouro, algodão, se parece com um hospital ou se existe em um dos mundos paralelos ou se é dentro de mim ?

O que muda se chamo a Deus de deus, alá, o qualquer nome que pretenda dar? Muda o que além de nossas bobas ambições e tamanha capacidade de discutir, brigar e matar pelo que não tem a menor importância ?
Quer saber a verdadeira religião? Viva a vida com simplicidade, resgate o “dom” de ver que todos um dia já tivemos, subverta os conceitos do fluxo dos dias de hoje e perceba a vida como milagre com o coração cheio de gratidão.

O resto, o que sobrar e não fizer diferença, a isso chamaremos de religião.

Do Livro: Mensagens que chega pela manhã.

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