sexta-feira, 22 de novembro de 2013

O que é karma?




Krishnamurti: Karma é uma das palavras peculiares que empregamos; é uma dessas palavras em que nosso pensamento se aprisiona. O homem pobre tem que aceitar a vida nos termos de uma teoria. Ele precisa aceitar a miséria, a fome, a sordidez, porque é subnutrido e não tem energia para sublevar-se e promover uma revolução. Precisa aceitar o que a vida lhe dá, e então diz: "É meu karma ser assim"; e os políticos, os notáveis, o encorajam a aceitar a miséria. Você não quer que ele se revolte contra tudo isto, quer? Mas quando paga ao pobre tão pouco, enquanto você mesmo possui tanto, é bem provável que isso aconteça; então você usa a palavra karma para encorajar-lhe a aceitação passiva da miséria.



O homem educado, o homem que adquiriu, que herdou, que alcançou o topo das coisas, o homem que tem poder, posição e os meios de corrupção - também este diz: "É o meu karma. Comportei-me bem numa vida anterior e agora estou colhendo a recompensa de minha ação passada."

Mas será esse o significado de karma - aceitar as coisas tais quais são? Compreendem? Karma porventura significa aceitar as coisas sem discutir, sem uma centelha de revolta - o que representa a atitude que muitos de nós têm? Por aí vocês vêem como certas palavras se tornam uma rede em que acabamos presos, isto porque não estamos realmente vivos. A verdadeira significação da palavra karma não pode ser entendida como uma teoria; não pode ser entendida se você disser: "Isso é o que o Bhagavad-Gita diz."


Ora, a mente comparadora é a mente mais estúpida de todas, porque não pensa; ela apenas diz: "Li esse e aquele livro e o que você diz é tal e qual." Quando diz isso, você parou de pensar; quando compara, já não está investigando para descobrir a verdade, independente do que qualquer livro ou guru lhe tenha dito. Por isso, o importante é desfazer-se de todas as autoridades e investigar, descobrir, e não comparar. A comparação é a adoração da autoridade, é imitação, é irreflexão. Comparar é próprio da natureza da mente que não acordou para descobrir o que é a verdade. Você diz: "Isso mesmo, é igual ao que o Buda falou", e pensa que, por esse modo, resolveu seus problemas. 


Mas para realmente descobrir a verdade, seja do que for, você precisa ser extremamente ativo, vigoroso, autoconfiante; e não pode ter autoconfiança enquanto estiver pensando de forma comparativa. Façam o favor de ouvir isto. Se não houver autoconfiança, vocês perdem todo o poder de investigar e de descobrir o que é a verdade. A autoconfiança suscita uma certa liberdade em que vocês descobrem coisas; e essa liberdade lhes é negada quando comparam.

O Verdadeiro Objetivo da Vida, pg. 124.


Krishnamurti






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