Querido Osho,
O que é iluminação? É uma revelação divina?
"Ela não é uma revelação divina, ela é uma realização divina. E a diferença é grande. Revelação divina significa que alguma coisa objetiva, como Deus, lhe é revelada. Você vê algum Deus; mas você está separado dele e ele está separado de você.
Eu não acredito num Deus que esteja separado de nós, que esteja separado da existência. Eu não acredito em um Deus que seja um criador; eu acredito num Deus que é criatividade.Dizendo isso em outras palavras, eu não acredito num Deus como uma pessoa, eu acredito em divindade como uma qualidade.
Assim, eu digo que ela não é uma revelação divina, mas uma realização divina. Você percebe que você é Deus, e ao perceber que é Deus, você percebe que tudo é Deus – que somente Deus existe e nada mais existe. Nas pedras, nas árvores, nos pássaros, nas pessoas – quer eu as conheça ou não – o mesmo princípio, a mesma qualidade está escondida no verdadeiro centro de todo ser.
Iluminação é tornar-se tão cheio de luz que você consegue ver o seu próprio centro e perceber a sua divindade.
Isso faz uma grande diferença – com Deus sendo separado, o homem é apenas um fantoche. Ele nunca pode ser livre, ele irá permanecer sempre um escravo. Como você pode se livrar do criador? Ele o criou. E por que ele o criou num determinado momento? Por que não antes?
Existe eternidade no passado – e o cristianismo diz que Deus criou o mundo há quatro mil e quatro anos antes de Jesus Cristo. Deve ter sido no dia primeiro de janeiro – obviamente. Mas, então, o que ele estava fazendo antes? Estava apenas sentado e nada fazendo por toda a eternidade? E então, de repente, ele criou este mundo. Um caos - não uma grande idéia.
Eu ia viajar e fui ao meu alfaiate. Disse-lhe, ‘Você tem que fazer o meu robe em sete dias. Nesse prazo, sem truque: sete dias significa sete dias.’
Ele disse, ‘Como você quiser. Mas lembre-se de uma coisa, Deus criou o mundo em seis dias e dê uma olhada no mundo. Eu posso criar o seu robe em sete dias, mas depois não me pergunte, ‘o que você fez?’ Vai ser um caos!’ Ele estava certo.
Em seis dias... E após os seis dias Deus estava cansado e descansou. E tem estado descansando desde então. Estranho cansaço! E parece ter sido um capricho, de repente, decidir criar o mundo. Mas você não pode depender de tal capricho de Deus. Amanhã ele pode decidir que já é o bastante e resolver destruí-lo. O que você pode fazer? Com um Deus que é um criador você está justo nas mãos de uma outra pessoa que pode fazer ou desfazer você. Então a sua liberdade e a sua individualidade não têm significado.
Nietzsche está certo quando diz, ‘Deus está morto, e agora o homem está livre.’ Ele está colocando duas coisas juntas; este foi o insight dele: Deus está morto e agora o homem está livre. Com Deus vivo, o homem não pode ser livre.
Eu não digo que Deus esteja morto – porque ele nunca viveu! Deus não é um objeto fora da existência. Ele não é um criador, ele é a realidade mais interna da existência. Ele é eterno; ele tem estado sempre aqui e agora; e ele sempre estará aqui e agora. A criação não terminou em seis dias, ela ainda está acontecendo. Ela é um processo que continua. Ela é uma evolução.
Mas Deus tem que ser colocado dentro dela, não do lado de fora. Com Deus do lado de fora, o mundo se torna morto e Deus se torna um ditador. Com Deus do lado de dentro, na existência, toda vida se torna mais viva e tudo vibra – e Deus não é mais um perigo.
Assim, eu não direi que a iluminação é uma revelação divina, não. Todos aqueles que disseram ter tido uma revelação divina, simplesmente sonharam com isso, estiveram alucinando. Foi uma ilusão e nada mais.
Iluminação é perceber como realidade que ‘eu não sou apenas um mortal. Eu não sou apenas material. Eu sou divino. No meu coração dos corações Deus está vivo, e o que está acontecendo em mim está acontecendo em todo mundo.’ A única diferença entre aquele que nós chamamos iluminado e os outros é que ele conhece; ele reconheceu o seu ser interior, e os outros estão dormindo profundamente. Mas não existe diferença qualitativa. Aqueles que estão dormindo, podem ser despertados amanhã.
E nesta eternidade, o que importa se você despertar hoje ou amanhã? Não importa. Você pode despertar de manhã cedinho ou pode se despertar mais tarde – a eternidade está disponível. Você é livre para escolher quando despertar. Você é livre para escolher se quiser dormir um pouco mais. Então vire para o lado, puxe o cobertor e desfrute o sono um pouco mais... Porque é Deus que está desfrutando isso. Não se preocupe. Por que perturbar Deus se ele quer dormir um pouco mais? Mais cedo ou mais tarde você vai despertar. Por quanto tempo você consegue ficar dormindo?
A iluminação é um despertar de um sono profundo, vindo do estado de inconsciência para a consciência. Isso não precisa de nenhum Deus de fora.
O Deus de fora é muito perigoso. Suas implicações são feias, porque o Deus de fora significa adoração, exaltação dele, rezar e pedir a ele, ir ao mosteiro, ir à igreja, ir à sinagoga. O Deus de fora nunca permite que você entre dentro de si mesmo: os seus olhos estão focados do lado de fora – e não existe nenhum Deus de fora. Você está olhando para um céu vazio.
A verdadeira essência da vida está dentro de você.
Neste exato momento você pode se voltar para dentro de si mesmo, olhar para dentro de si. Nenhuma adoração é necessária, nenhuma reza é necessária. Tudo o que se precisa é uma jornada silenciosa em direção ao seu próprio ser. Eu chamo isso meditação – uma peregrinação silenciosa ao seu próprio seu. E no momento em que você encontrar o seu centro, você terá encontrado o centro de toda a existência.
Arquimedes, um dos grandes cientistas, costumava dizer, “Se eu conseguir encontrar o centro do mundo, eu poderei revolucionar tudo.’ Mas o pobre homem nunca encontrou; ele procurava na direção errada. Se por acaso em alguma vida eu encontrá-lo, eu lhe direi, ‘Arquimedes, você ainda está procurando o centro do lado de fora? O centro está dentro de você. E isso é verdadeiro: se você conseguir encontrar o centro dentro de si, você terá encontrado o centro de todo o mundo, e conseguirá revolucioná-lo.’”
Osho
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